A evolução recente dos indicadores de atividade reforça o cenário de
continuidade da recuperação da economia brasileira, após os fortes impactos da pandemia de covid-19.
Entretanto, ainda há incertezas diante do aumento do número de casos da doença. A análise é do Banco
Central (BC) e foi divulgada hoje, 05, no
Boletim Regional, publicação trimestral que apresenta as
condições da economia por regiões e por alguns estados do país.
De acordo com o BC, as
informações referentes ao último trimestre do ano passado evidenciam expansão, apesar da redução
parcial dos programas governamentais de recomposição de renda. Os dados, no entanto, não contemplam
os possíveis impactos negativos do recente aumento no número de casos da Covid-19. Nesse sentido, a
incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o
primeiro trimestre deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos benefícios
emergenciais, diz o documento.
Ontem, 04, o BC também divulgou análises específicas no
âmbito do Boletim Regional, sobre o
desempenho da atividade econômica nas regiões do país e as
exportações de produtos básicos impulsionadas pela evolução da economia chinesa. Por outro lado, com
a
contração econômica ocorrida em janeiro deste ano no Amazonas em razão da segunda onda de casos de
covid-19, o BC alertou sobre os possíveis impactos de um agravamento severo da pandemia em outras
regiões.
Região NorteO Norte do país, apesar do menor crescimento (0,7%) no quarto
trimestre do ano passado, apresentou desempenho superior ao das demais regiões no ano, com o Índice
de Atividade Econômica Regional (IBCR) da região em alta de 0,4%. Em12 meses, a atividade econômica
no Pará expandiu 1,7%, enquanto no Amazonas retraiu 2,8%.
De acordo com o BC, a
acomodação da economia da região refletiu, especialmente, a retração das vendas do comércio
varejista, em ambiente de queda da renda da população, com redução dos benefícios emergenciais e
aumento dos preços acima do esperado.
A continuidade do processo de retomada, no curto
prazo, dependerá, fundamentalmente, dos efeitos da pandemia, que apresentou recrudescimento no
início do ano no Norte. No médio prazo, a região tende a ser beneficiada pela recuperação dos preços
das commodities metálicas [como minério de ferro], importante segmento da economia local, diz o
boletim.
Região NordesteNa Região Nordeste, o índice de atividade econômica avançou
1,8% no quarto trimestre de 2020, mas no ano recuou 2,1%. Segundo o BC, o crescimento da economia no
quarto trimestre foi favorecido pela recuperação da mobilidade e pela reabertura de atividades
econômicas, o que permitiu ampliação expressiva dos serviços e da indústria, em contexto de
dinamismo do crédito.
Apesar da expansão no trimestre, a economia da região apresentou,
comparativamente ao período pré-pandemia, a maior retração e foi a única a registrar recuo das
vendas do comércio varejista em 2020, influenciada pela elevada ociosidade do mercado de trabalho.
No curto prazo, houve aumento da incerteza quanto à continuidade da retomada, em cenário de aumento
dos casos de covid-19 e do fim dos benefícios emergenciais, explicou o BC.
Paralelamente
ao aumento da mobilidade, os indicadores econômicos do último trimestre de 2020 mostraram a
atividade nordestina mantendo a tendência de recuperação observada no trimestre anterior, de julho a
setembro, quando crescera 4,5%. Dados iniciais de janeiro sinalizam acomodação do nível de
atividade, sugerindo cenário de incertezas quanto ao processo de recuperação econômica, destaca o
documento.
Região Centro-OesteNo Centro-Oeste, as variações trimestrais da
atividade econômica ao longo do ano passado foram relativamente mais suaves, refletindo as
especificidades de sua estrutura produtiva, ligada a atividades agrícolas que não sofreram restrição
ao funcionamento durante a pandemia. No quarto trimestre, o ritmo de atividade registrou aceleração
de 2,1%, em sentido oposto ao desempenho das demais regiões, fechando o ano com alta de 0,2%.
Esse movimento repercutiu o crescimento em serviços prestados a empresas e famílias, em
ambiente de maior mobilidade. No ano, o desempenho relativamente positivo da economia foi favorecido
pela safra recorde de grãos e pelas cotações das commodities [produtos primários comercializados em
mercados internacionais], em especial de soja e carnes, que impulsionaram as vendas externas,
explica o BC.
Além disso, o serviço de transportes, no modal rodoviário, fortemente
correlacionado à atividade agrícola, também contribuiu para o resultado no Centro-Oeste.
Região SudesteNa Região Sudeste, os indicadores analisados pelo Banco Central mostram a
manutenção do processo de recuperação no último trimestre do ano passado, embora em ritmo mais
moderado. O Índice de Atividade Econômica Regional do Sudeste cresceu 2,6%. Ainda assim, no ano,
houve retração de 1,3%.
Houve desaceleração na indústria, no comércio e no setor de
serviços, causada pela base desfavorável de comparação, mas também pelos efeitos esperados da
redução dos benefícios emergenciais. No ano, a estrutura produtiva mais diversificada permitiu que
as atividades severamente impactadas pela crise tivessem seus resultados compensados, em parte, pela
evolução favorável de outras [como os serviços financeiros], diz o estudo.
Região SulNo Sul, o conjunto de informações disponíveis sugere continuidade do processo de recuperação, que
segue, a exemplo das demais economias, dependente da evolução na pandemia de covid-19. Após forte
expansão na maioria dos indicadores econômicos no terceiro trimestre de 2020, o quarto trimestre
apresentou recomposição mais gradativa da atividade, com crescimento de 2,5%. No ano, o índice caiu
2,1%.
Além disso, a redução dos programas de manutenção da renda e a ampliação da taxa
de desemprego concorreram para arrefecer o processo de retomada. Essa trajetória pode ser impactada
pela ampliação do número de casos de covid-19, a partir do final de 2020, que reduziu a
previsibilidade associada à evolução da pandemia e consequente aumento da incerteza sobre a
atividade, explica o BC no boletim.
A expansão no quarto trimestre ocorreu em
praticamente todas as atividades da região, com maior magnitude na indústria de transformação
destaque para veículos, metalurgia, máquinas e equipamentos, calçados e confecções e nos serviços
de alojamento e alimentação.
De acordo com o BC, relativamente ao período pré-crise
(janeiro e fevereiro de 2020), a alta de 1,6% refletiu, em boa parte, a recuperação da produção
industrial, mesmo em cenário de falta de insumos e matérias-primas. Por outro lado, as atividades de
serviços mais afetadas pelo distanciamento social, como hotelaria, bares e restaurantes, não
retornaram ao nível anterior.
Fonte: FONTE: Andreia Verdélio/Agência Brasil | FOTO: Reuters/Paulo Whitaker/Direitos Reservados