Pela segunda vez, o feriado de Páscoa ocorrerá em meio à pandemia do novo
coronavírus. Mas, agora, com o Brasil batendo recordes sucessivos de números de casos e mortes em
razão da covid-19, as mudanças serão bastante relevantes nas cerimônias tradicionais.
Na
maior parte das localidades, eventos com potencial de provocar aglomerações estão proibidos, numa
medida contra a circulação do novo coronavírus, diante de um cenário com esgotamento da estrutura de
atendimento do sistema de saúde e filas de espera para leitos de unidades de terapia
intensiva.
Pela segunda vez em 276 anos, por exemplo, foi cancelada a Procissão do Fogaréu,
na cidade de Goiás, que costuma reunir milhares de pessoas durante a Páscoa. Na celebração, dezenas
de farricocos soldados romanos encapuzados percorrem as ruas do centro histórico carregando
tochas e participando de encenações. No lugar, a prefeitura fará uma transmissão com gravações de
ritos anteriores.
Outra tradição bicentenária, os tapetes devocionais de Ouro Preto serão
feitos neste ano apenas por pequenos grupos de fiéis locais. Não será permitida a participação de
outras pessoas na confecção das centenas de metros de tapetes de flores, serragem e pó de café,
atividade que costumava reunir milhares de moradores e turistas. As missas também serão sem público,
transmitidas pela internet.
Paixão de Cristo
As
mais típicas encenações da Paixão de Cristo também foram submetidas a restrições pelo
país.
Em São Paulo, a celebração de Santana do Parnaíba, a 40 quilômetros (40) da capital,
foi cancelada. Antes da pandemia, o município abrigava a encenação da peça Drama da Paixão, que
recebia a presença de milhares de fiéis. Igrejas, templos e outras sedes de congregações religiosas
podem ficar abertas, mas apenas para manifestações individuais de fé.
Em Pernambuco, outro
espetáculo cancelado pelo segundo ano consecutivo foi o de Nova Jerusalém, que encena a Paixão de
Cristo no que é conhecido como o maior teatro a céu aberto do mundo, com 100 mil m2, no município de
Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano.
O espetáculo ocorria há mais de 50 anos, e
nesse tempo, já foi visto por mais de 4 milhões espectadores, segundo os organizadores. Em 2019,
quando ocorreu a última encenação, a média de público foi de 6 mil pessoas diárias ao longo de oito
dias de temporada.
Outra cerimônia com histórico de grande mobilização religiosa cancelada
foi a encenação da Via Sacra do Morro da Capelinha, em Planaltina, no Distrito Federal, a 40 km de
Brasília. O evento também realizava uma dramatização da morte e da ressurreição de Cristo. Em 2019,
no último ano em que o evento foi realizado, ele reuniu 15 mil fiéis que subiram o íngreme
morro.
Norte a Sul
Em cidades de forte mobilização
católica, como Belém, procissões que costumam reunir milhares de devotos, como a do Senhor Morto,
não devem ocorrer. Na capital do Pará, missas mais tradicionais, como o Sermão das Sete Palavras,
serão celebradas sem público.
Já em Gramado, no Rio Grande do Sul, toda a extensa programação
anual de Páscoa foi transferida para a internet, com a transmissão de peças infantis e recitais.
Polo nacional de produção de chocolates, antes da pandemia a cidade da Serra Gaúcha recebia grande
quantidade de turistas nesta época do ano. Mesmo com restrições, a prefeitura manteve a tradicional
decoração iluminada da cidade, com coelhos, ovos e chocolates.
CNBB
Neste ano, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) produziu um
documento de
orientações às paróquias do país sobre o feriado no contexto de pandemia. O documento
sugere evitar procissões. Já o Domingo de Ramos teve de ser celebrado dentro das igrejas,
respeitando as orientações sanitárias de distanciamento e higiene, sem distribuição de
ramos.
A Missa do Crisma teve (ou terá) de ser celebrada com uma representação de pastores,
ministros e fiéis. A confederação acrescentou como orientação uma oração pelos que padecem com a
pandemia da covid-19.
Fonte: FONTE: Jonas Valente e Felipe Pontes/Agência Brasil | FOTO: Léo Rodrigues/Agência Brasil